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Atualizado: 10 de out.

“Um Caminho para cuidar da Saúde do Corpo e da Saúde da Alma”


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O Caminho Caipira, das irmãs Luciana, Marciana, Poliana e Ariana, é um Caminho para você cuidar da saúde do corpo e saúde da alma.


E espero conseguir passar a vocês, os meus verdadeiros sentimentos de quando estive no caminho, e como eu cheguei a esta definição para o Caminho Caipira. Eu me considerava uma pessoa que sabia o que colocava para dentro da minha vida, e que, sabia cuidar muito bem do meu corpo e da minha alma, até quando eu parei para meditar sobre o que aconteceu comigo no Caminho Caipira.


A convite da minha amiga peregrina Marciana, eu organizei um grupo de amigos e fomos caminhar em Borborema no “Caminho Caipira”.

Fazia parte do nosso grupo, a nossa mascote Dorô, uma peregrina de 90 anos que tem muita coragem, força de vontade e vitalidade como ninguém. Ela é um exemplo para muitas pessoas que adora caminhar.

Lotamos uma Van com 12 amigos e fomos…

Saímos de São Paulo às 8h00 da noite e chegamos às 3h00 da manhã em Borborema. Na chegada, a Marciana nos “fez as honras da casa” com alegria e simpatia de moça do interior.

Eu me senti bem acolhido, era como já se fosse da família e estivesse chegando à casa de uma prima que mora na roça.

Imagine-se ficar em um sítio lindo, seguro, agradável, na natureza e que tem um significado especial para você. Então, é lá o Caminho Caipira.

O dia amanhece, e como em toda na roça, o galo anuncia o amanhecer de um novo dia. E para alimentar a nossa alma, uma orquestra de passarinhos começam cantar.

Levantamos e demos as caras a um lindo fenômeno da natureza: Uma cabra acabava de dar à luz a um lindo cabritinho; ele estava todo molhado e encolhido, enquanto sua mãe o lambia como se estivesse abençoando a sua chegada.

Enquanto isso, o cuidador do rebanho de cabras, alimentava os cabritinhos com uma enorme mamadeira de leite com um composto, que é para ajudá-los a crescer com força e resistência.


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E fomos para o café da manhã, que foi de arrasar.


A mesa estava repleta de bolos, pães, frutas e alimentos frescos à base de leite de cabra: queijo branco, ricota, iogurte, manteiga, além de café, leite, geleias e muitas outras gostosuras.


Tudo feito por eles próprios e com produtos colhidos do sítio Caipira.

E, como eu tenho o olho maior que a barriga, pensei: “enquanto eu não conseguir devorar toda esta comida não vou sair da mesa.”

No entanto, para a nossa saúde, devemos nos alimentar compreendendo o sentido de que estamos colocando algo no nosso corpo apenas para nos dar mais energia, e portanto, devemos comer somente o necessário.

E para nos colocar em movimento, a Marciana dá o pontapé inicial da nossa aventura pela roça e partimos caminhando por uma trilha toda sombreada, em um pequeno trecho de mata atlântica preservada.

É lindo observar e ouvir a natureza e quem sabe, se tivermos sorte, conseguir ver alguns dos bichos escondidos no meio da mata.

É hora de alimentamos a nossa alma sentindo o cheiro de mato, um momento de parar e observar a respiração, perceber o ar entrando pelas nossas narinas e sendo expelido dos pulmões.


A respiração consciente nos ajuda na saúde psicológica e na cura da ansiedade.

A Marciana fala de coração que aquele lugar é o quintal da casa dela e relembra dos bons momentos vividos ao lado de seu pai, e que desde menina ela o acompanhava em suas caminhadas pelo bosque.

Deixamos a mata e colocamos a Dorô no carro de apoio. Ela reclama, quer continuar caminhando, mas não tem jeito, o próximo trecho do Caminho Caipira há alguns obstáculos que temos de ultrapassar e enfrentar e, para a saúde dela é melhor que fique esperando no carro e nos encontre no próximo trecho do caminho.

Ao passar pelo arame farpado, do outro lado da rodovia, encontro a Dorô que me diz de forma ansiosa e morrendo de vontade de caminhar:


— Por que demoraram tanto tempo! Vamos logo Paulo que eu quero caminhar!


E seguimos o caminho por uma estrada rural, passamos por um trecho bem fácil com apenas uma leve inclinação e sem obstáculos a serem superados.

Começamos a caminhar juntos, um segundo que parei e fui ao banheiro no mato, quando eu volto, a Dorô não está mais no meu campo de visão e começo a procura-la, e dou um grito:

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— Dorô! Cadê a Dorô?


Caminho rápido até chegar no alto do morro, e de lá dou de olhos com a Dorô, e a vejo caminhando sozinha em ritmo coordenados com os seus inseparáveis cajados.

Estava a mais de um quilômetro à minha frente, eu até que tentei alcançá-la, mas ela parecia que “estava com a macaca”.


Caminhava rápido, com vontade e disposição como ninguém. Eu só consegui alcançá-la quando ela parou em uma fazenda de apoio para abastecer de água.

E por falar em macaca, entramos por uma trilha de mata preservada e repleta de macaquinhos que vinham nos recepcionar. Expertos eles corriam de um lado para o outro, a bem da verdade é que estavam em busca de comida, eram ligeiros, pegavam a fruta da nossa mão e corriam para comer dentro da mata.

Saímos da fazenda e fomos conhecer o rio tietê que passa por Borborema, bem diferente do rio que corre em São Paulo, lá ele chega limpo, repleto dos mais variados tipos de peixes.

Olhando para a grandeza do rio, fiz um exercício de fechar os olhos e meditar, tentando não pensar em nada. No início foi bem difícil, até que consegui me concentrar, mais foi só ouvir o barulho do meu estômago roncando me chamando para o almoço.

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Assim seguimos para a casa da Ariana, onde foi servido um almoço caipira de encher os olhos; no cardápio tivemos: Arroz, feijão, carne, frango ao molho com polenta e quiabo, entre outras delícias da roça. Estava tudo saboroso, um tempero fora de série, uma comida caseira, simples, feita com muito amor e carinho no fogão a lenha. O frango ao molho com polenta lembrou o que a minha mãe preparava para mim, quando eu passava o final de semana na casa dela, na cidade de Lins.

E ainda tinha a sobremesa: queijo branco com doces caseiros feitos ali mesmo pela Ariana. Depois deste banquete todo, sem dúvida nenhuma fui tirar um cochilo no redário.

A Marciana nos convida a conhecer o cantinho do caminho caipira, uma casa que elas transformaram em um pequeno museu, onde vendem os doces e outros produtos produzidos na roça. E também serve para reunir o grupo, descansar da caminhada e tomar o chá da tarde.

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Nos reunimos na varanda e ficamos esperando pelo chá da tarde.


E, eis que surge uma senhora idosa, a dona “Nhá Colaca”, bem alegre com seu jeito modesto e simples com o bule de chá de erva cidreira e começa servir a cada uma das pessoa do grupo.

Sentada em sua cadeira de balanço, ela começa a contar os causos do "Pito Aceso" e das experiências da vida na roça. E começa contando:

“Existem tantos acontecimentos inexplicáveis nessa vida que sempre nos perguntamos: Será verdade ou mentira? Será que realmente aconteceu ou sonhamos? São os tais mistérios… e continua...”.


E aí? Ficou curioso em saber dos causos do “Pito aceso”?

Então, você terá que ir lá no Caminho Caipira para ouvir da própria dona Nhá Colaca.

A noite, para encerrar com chave de ouro, tivemos um jantar inesquecível, mais uma uma surpresa do Caminho Caipira: um jantar no estilo Italiano com pães, queijos, berinjelas e massas, tudo feito com mão de mestre pelos chefs de cozinha Luciana que morou na Itália e seu marido Italiano.

Após o jantar, nos reunimos em volta da fogueira, com pipoca, vinho e chá de ervas para acalmar, enquanto isso alimentamos a nossa alma compartilhando os causos e músicas cantadas pelo nosso amigo e peregrino Ribeiro.

A noite, deitei na cama e comecei a pensar em tudo que fizemos durante o dia, e a avaliar se fui coerente com o meu sentido de vida, por fim, cai no sono e dormi como um anjo.

Quando dormimos bem, o nosso emocional e a nossa mente descansa e ficamos renovados para enfrentar o nosso dia a dia.

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No dia seguinte, o cabritinho que nasceu ontem já está de pé e começa a pintar o caneco e vai correndo de um lado para outro em busca da mamadeira para alimentar o seu corpo.

E assim, a vida na roça continua e vamos alimentando o nosso corpo e a nossa alma e começamos a viver tudo de novo…

Depois de chegar até aqui lendo o meu relato do caminho você já deve estar se perguntando: O Caminho Caipira é para você Caminhar ou é só para Comer?

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E eu te respondo:


Com a experiência que eu tive ao percorrer o Caminho Caipira foi acima de tudo, um caminho que :

Aprendi que precisamos nos alimentar com comidas saudáveis, que serve para purificar e libertar o corpo e a alma;

Me inspirei com os bons exemplos, com amor e amizade das quatro irmãs, o respeito as leis da natureza, os pássaros, o cabritinho, o rio limpo e, tudo que vivi no caminho serviu de lição e me fez renovar.

Lavei a alma ao tirar de dentro tudo que me contamina, limpei as impurezas, higienizei a mente e me purifiquei dos pensamentos que não são meus e voltei para casa apto para receber coisas novas;

Organizei a mente, me capacitando a ter noção das ideias que outras pessoas estão alimentando a minha mente, e das mensagens que estou passando para as pessoas a minha volta;


Aprendi a cuidar e libertar das coisas que alimenta o meu emocional, e,

Conclui que para eu ter uma vida saudável, tenho que alimentar o meu corpo e a minha mente com coisas boas, saudáveis, fazer exercícios, alongar, meditar e repousar, fazendo tudo com moderação, evitando os extremos e os excessos.

“O Caminho Caipira além de tudo é um Caminho para você cuidar da saúde do seu corpo e da saúde da sua alma”.


E a Dorô sempre me pergunta:

— Paulo , quando vamos voltar naquele caminho do sitio das irmãs?

A Dorô pode não se lembrar de muitas coisas, mas ela sempre lembra dos momentos saudáveis que marcaram a sua vida e de quem a recebeu com amor e carinho.

Eu já fui três vezes e pretendo repetir outras vezes os caminhos que me inspiram para uma vida de sabedoria.

Espero ter conseguido passar um pouco do espírito do Caminho Caipira e não sei se vai concordar com tudo que eu escrevi, mas de uma coisa eu tenho certeza:


Você vai se arrepender de não ter conhecido antes o Caminho Caipira e quando for, vai querer voltar.

Se ao conhecer a minha experiência despertou um sinal, um desejo dentro de você para um dia ir conhecê-lo, não perca mais tempo.

Vá para o Caminho Caipira!

Um bom Caminho para você! Bom Caminho para sua Vida!

E um grande abraço!

Paulo Bertechini


Se quiser participar da próxima edição, recomendo entrar em contato com a Marciana no site do Caminho e click em: www.caminhocaipira.com.br



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O circuito Os Caminhos da Sabedoria é um diálogo entre o Budismo e o Cristianismo, e eu fiquei pensando como seria um encontro do monge budista Kobo Daishi de Shikoku no Japão com o monge católico São Francisco de Assis na Itália? ◦ Será que haveria um conflito de poder entre os dois? Uma “briga de cachorro grande”? ◦ o que há em comum entre eles? ◦ qual a sabedoria que cada um deles tem para nos passar? Alguns Caminhos me deixam entusiasmado e, confesso, bastante inspirador, o que para muitos pode ser superconfortável caminhar entre amigos, pra mim este caminho foi arrebatador. Sem exagero! Para tentar explicar como cheguei a esta conclusão, eu vou contar alguns momentos deste caminho, que me inspiraram e me ajudaram a seguir cada vez mais em busca da sabedoria.

Iniciamos o caminho na total ignorância, sem nenhuma noção do que iríamos encontrar, e, caminhando de forma paulatina, pouco a pouco, vamos conhecendo um pouco mais das pessoas que estão a nossa volta, revelamos a nós mesmos, e, a cada dia de passa descobrimos os desafios e as belezas do Caminho que nos propomos a seguir.

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Tudo isso, faz nos compreendemos e conquistarmos um pouco mais de sabedoria. O início o caminho foi bem fácil, estrada plana e asfaltada. Caminhei bem tranquilo até chegar ao Templo Budista, onde está sendo construído um Buda enorme que chama a atenção de todas as pessoas que passam a beira da estrada.


Eu estava preocupado com as diferenças de altitude do caminho que vinha pela frente. Na subida necessito de muito fôlego e na descida preciso de usar bastante o joelho. Como eu tenho o ligamento do joelho rompido, pensei: se for difícil demais para mim, eu tenho a possibilidade de terminar o caminho no carro de apoio. Segui caminhando bem rápido pelo acostamento e me distanciei um pouco das pessoas que vinham no grupo logo atrás. Aproveitei o isolamento e pus a me refletir sobre o meu temor e levo a cabo que estava com “sangue nas veias” para encarar todas as dificuldades, seja ela qual fossem me apresentada, por que “a sabedoria não se adquire sem esforço, tem que ser enfrentada e alimentada todos os dias". Passado o trecho de estrada asfaltada, entramos por um caminho tranquilo e silencioso. À minha frente encontro os dois adolescentes do grupo, o Yuri e a Lari caminhando ao lado do Zé, que tem um pouco mais de sessenta anos.

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Por um momento, imaginei a presença dos discípulos vivendo na companhia do mestre, absorvendo a sabedoria dos seus ensinamentos. Ao final do dia, um pouco antes de chegar na casa onde ficaríamos hospedados, passamos por uma ponte de um rio e não resisti, fui logo tomar um delicioso banho de cachoeira que serviu para relaxar, recuperar os músculos, energizar o corpo e purificar a alma.

Uma casa muito simples de um casal com muita sabedoria. A esposa Sandra acolhe os hóspedes com alegria preparando as refeições, enquanto o seu marido discreto, de poucas palavras, oferece uma atenção especial aos peregrinos e a ajudava nos afazeres da cozinha. No dia seguinte, nos despedimos do casal e seguimos o caminho em busca de mais um dia de sabedoria. Dava-se início a um longo trecho de subida íngreme, bem propício para quem gosta de caminhar em montanhas e possui um pouco de experiência. A estrada estava vazia, sem movimento, apenas algumas máquinas agrícolas cruzaram o nosso caminho para realizar o trabalho no campo. O Edmar Colibri, organizador do caminho, fazia o nosso apoio e parava o carro a cada cinco quilômetros para nos fornecer água e frutas. O sol apareceu forte, justamente por um trecho que não havia sombras. Depois que atingimos o pico da montanha, seguiu-se uma descida que parecia não ter fim e comecei a sentir calor e sede. Eu tinha pouca água, e a que tinha já estava quente, e morrendo de sede parecia que o carro de apoio estava cada vez mais distante. Encontrei uma sombra, parei e olhei para trás e avistei o guia que vinha se aproximando e esperei. Assim que ele chegou falei:

— Cara, estou morrendo de sede, onde está o carro de apoio? — Ele deve estar um pouco mais abaixo, é que este trecho não tem uma árvore com uma sombra boa para parar o carro e esperar o grupo. O guia me deu um pouco da sua água que estava ainda gelada e tomamos de volta o caminho.

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E realmente, depois de cinco minutos encontramos o Edmar com o carro de apoio parado embaixo de uma sombra nos esperando com frutas, uma água bem refrescante, lanche e me surpreendeu com um prato com diversos tipos de queijos. E como eu sou viciado em queijo, ao encontrar uma surpresa com esta, de forma inesperada, foi como um sedento encontrar um oásis no deserto.


De energia recuperada segui o caminho. Logo que passei por uma igreja evangélica encontrei o guia parado esperando o grupo em uma bifurcação, a fim de evitar que o pessoal pegasse a direção errada. Ele avisou que o caminho seguiria à frente, mas quem quisesse ir degustar os vinhos da casa e conhecer a vinícola deveria seguir para a direita. Eu vendo a minha frente as duas amigas Celi e Maria, resolvi segui-las e acompanhá-las até a vinícola. Fomos os três; a distância era curta, não mais de um quilômetro, no entanto com uma descida e uma subida bem íngreme até a entrada da Vinícola. Quando chegamos demos com a porta na cara, era domingo e o proprietário resolveu não abrir a vinícola. E gritei para o guia: — A vinícola está fechada! — Voltem! — gritou o guia. — É para voltar pelo mesmo caminho? — Sim! Por aí deve ter um gato! — gritou o guia. Eu falei para as duas amigas: — Temos que voltar! Vamos! Eu ouvi o guia dizer que por aqui tem um gato. — Um gato? Perguntou a Maria. — Sim, foi o que ele disse, acredito que deve ser um atalho. Vamos seguir por este caminho a esquerda da Vinícola, está parecendo que vai cortar caminho e vai nos levar a frente de onde eles estão, assim nós não precisamos voltar e pegar aquela subida até eles. Sem pensar duas vezes, seguimos o atalho, eu até achei um pouco estranho porque esse caminho subia, no entanto, eu conseguia ver de lá do alto o caminho que eles deveriam seguir. Depois de caminhar por mais de um quilômetro, encontrei uma casa de apoio dos agricultores e decidi ficar por lá descansando à sombra esperando por eles ou pelo carro de apoio. O tempo passa e percebo que eles estão demorando, quando de repente eu avisto o carro de apoio passando na estrada logo abaixo de onde estávamos, e disse: — Olhem o carro de apoio passando na estrada lá embaixo! Eu vou até lá, ele deve estar nos procurando! Quando chego na bifurcação, não encontro o carro de apoio, mas vejo o sinal do Caminho da Sabedoria, e gritei: — Meninas, venham! Este é o caminho! Vejam a placa! Esta é a direção que devemos seguir! Vamos lá! E seguimos caminhando por uma subida que parecia não ter fim. — Vamos em frente! Força que logo encontraremos o carro de apoio, ele deve estar parado esperando o grupo lá no alto da montanha. Chegamos ao topo da montanha e nada de encontrar o carro de apoio. E pensei comigo: pelo tempo que fiquei parado esperando pelo grupo, deveríamos estar atrás deles. Nesse caso, temos que caminhar cada vez mais rápido com o objetivo alcançá-los ou quem sabe o carro de apoio que, na minha cabeça, estaria logo a frente. Cansados, ao encontrar uma Igreja católica, paramos para conhecer e resolvemos descansar. Deitei no banco da igreja e comecei a refletir: • Será que grupo está atrás da gente? • Será que o carro de apoio foi até a pousada para descarregar as mochilas e logo vai voltar? • Será que é melhor ficar esperando por eles aqui na igreja? E comecei a me dar conta de que deveríamos estar à frente do grupo. — Meninas, vamos ficar descansando aqui na igreja até que alguém do grupo ou o carro de apoio passe por nós. E logo apareceram dois amigos do grupo, e foi quando ficamos sabendo do que tinha acontecido com eles desde da hora que desgrudamos do grupo. O grupo havia ficado esperando a gente voltar pelo mesmo caminho na bifurcação da Vinícola. Diante da nossa demora, o guia foi até a vinícola e não nos encontrou, procurou por todo os lados e não viu nenhum sinal ou rastro que tivéssemos deixado. Ainda assim, esperaram-nos por uma hora pelo nosso retorno, como não demos as caras, decidiram seguir o caminho da sabedoria sem saber o que tinha acontecido com a gente. O guia, bem responsável e preocupado com o nosso sumiço do caminho da sabedoria, pensava, com razão, que tivéssemos pegado um caminho errado e que estivéssemos totalmente perdidos. Quando eu soube de tudo isto, me senti muito mal, fiquei arrasado, triste por não ter voltado pelo mesmo caminho para encontrar o grupo. Estava envergonhado, sabia que tinha feito algo errado, pensando apenas no meu conforto e prazer, me esquecendo do grupo. Ao encontrar com o guia, como era de se esperar, ele estava bravo e nervoso. E fui tentar acalmá-lo, pedir-lhe desculpas e reconhecer o meu erro. Eu me sentia culpado, com o coração apertado, deveria ter voltado pelo mesmo trecho e não ter pego um “gato” do caminho. Na etapa final, segui caminhando sozinho e recolhendo ao meu interior, meditando e refletindo sobre todo o aprendizado que tive no Caminho da Sabedoria. E fui me perguntando: ◦ Fui ousado procurando alternativas e atalhos para seguir o caminho? ◦ Fui orgulhoso, pensando só no meu prazer ao cortar um trecho caminho e esquecendo do grupo? ◦ Fui teimoso e desobediente às instruções do guia de não caminhar à frente? De que adianta pegar um atalho e se perder pelo caminho e ficar parado no tempo aguardando que apareça um sinal. Às vezes, o melhor que temos a fazer é dar um passo a trás, é melhor recolher-se um pouco, voltar atrás para recomeçar, do que sair pelo caminho sem saber a direção que está seguindo. Seguir os Caminhos da Sabedoria não é uma tarefa fácil, temos que agir com prudência, estudar muito, aprender as regras e seguir as instruções dos mestres. É preciso viver a experiência do Caminho para adquirir a sabedoria, quando refletimos sobre tudo que acontece à nossa volta e começamos a considerar as dificuldades como oportunidades de crescimento, aprendemos que onde há sabedoria há um rastro de Deus. Encerramos o caminho em uma bela pousada, onde compartilhamos com os amigos uma deliciosa refeição, bebemos, nos divertimos e demos muita risada, comemorando a passagem do novo ano. Para mim, foi um grande aprendizado a experiência de percorrer “O circuito Caminhos da Sabedoria”: O caminho inicia-se na Igreja São Marcos, passamos pelo mosteiro budista, o Mosteiro Zen do Morro da Vargem, diversas capelas, igrejas católicas e evangélicas e finalizamos no Santuário de Nossa Senhora da Saúde em Ibiraçu. Aprendi que viver o caminho faz parte do aprendizado da busca da sabedoria, e o único diálogo que deve haver entre o Budismo e o Cristianismo, entre os devotos de Cristo e de Buda que é a verdadeira devoção e qualidade comum a todos seres humanos, que é compartilhar o amor à natureza humana. O que eu pretendo com este relato é contar os aprendizados que tive no caminho e compartilhar com o máximo de pessoas, para que eu possa inspirá-las a também escreverem as suas próprias experiências. Vamos lá? Bom Caminho! Bom caminho para sua Vida! Um grande abraço! Paulo Bertechini Obs: O “Caminhos da Sabedoria” é um circuito de peregrinação espiritual marcado por igrejas, capelas e templos, além das belas manifestações da Mata Atlântica. É um percurso para ser feito com espiritualidade, em busca da real sabedoria.

Se quiser participar da próxima edição, recomendo entrar em contato com o Edmar no site do Caminho e click em: http://colibriaventura.com.br/



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Um comportamento de tão repetido, torna-se um hábito.


Sempre que acontece algum fato que me chama a atenção, procuro meditar sobre ele, e aprender o significado, e ver o que posso levar de lição para o futuro.


Viver a peregrinação no Caminho de Shikoku, trouxe-me a consciência de que temos de incorporar bons hábitos em nossa rotina do dia a dia. E ao transforma-los em rituais encontraremos a sabedoria, que nos fará crescer como pessoa humana.


Adquirimos a sabedoria quando vivenciamos, meditamos sobre as ações e corrigimos os nossos erros, bem como quando transformamos um simples hábito do dia a dia, em um prazeroso ritual.


E agora vou contar a vocês como cheguei a esta conclusão baseado nos rituais japoneses aprendidos durante a minha peregrinação no Japão.


A convite da minha amiga Margo, organizamos um grupo a peregrinação a pé por um trecho de 200 quilômetros no Caminho dos 88 templos sagrados, na Ilha de Shikoku.


Antes de ir para o Caminho a nossa guia mestre Margo, nos pediu para considerar no orçamento as compras das roupas e acessórios utilizados pelos peregrinos.


Eu observando a lista, achei que era desnecessário usar toda aquela parafernália para caminhar, e pensei comigo:


— "É jogar dinheiro fora comprar este monte de itens, sem utilidade alguma, que só servirá para atrapalhar a gente na caminhada".


Separei apenas os itens que achei que serviria para me identificar como um peregrino, deixando de fora, os com símbolo religioso. E comprei os seguintes itens:


  • um avental branco (a cor da morte), que simboliza o fim de um ciclo e abre caminho para que um novo possa começar.

  • o chapéu tradicional de bambu;

  • o cajado que é a reencarnação de Kobo Daishi;

  • e as velas, incenso como oferendas e

  • a credencial do peregrino.


Sentia como se estivesse comprando uma fantasia de carnaval, no entanto, tenho que reconhecer que até aquele momento eu não tinha incorporado o espírito de um peregrino japonês.


E assim, vamos seguir os rituais do Caminho dos 88 Templos Budistas.


Ritual nos Templos:

No primeiro dia no caminho, começa o processo de “transformação” que é a preparação para a performance do ritual.


Eu ainda dentro da loja, ao me ver no espelho, sinto incorporar o espírito de um “Henro”, como são conhecidos os Peregrinos do Caminho de Shikoku.


A cada um dos templos que visitava, me comportava como uma criança, eu aprendia repetindo o ritual que os demais peregrinos faziam, como segue:


  • Primeiro, à frente do portão de entrada, onde em de cada um dos lados ficam as imagens dos guardiões do templo, com as mãos unidas fazia uma reverência, abaixava levemente a cabeça em sinal de respeito e humildade. Como se tivesse pedindo:“com licença, posso entrar na sua casa?”

  • Lavava as mãos, utilizando um recipiente de cabo longo, primeiro a mão esquerda e depois a direita, em seguida colocava água na mão esquerda, enxaguava a boca e cuspia fora. A água que restava na vasilha, jogava sobre o cabo deixando-o limpo para outras pessoas fazerem o mesmo. O ritual simboliza a purificação do corpo;

  • Tocava o sino uma vez, sinalizando a minha visita ao templo;

  • Acendia 3 palitos de incenso e uma vela;

  • Colocava uma doação como oferenda que é para dar sorte ;

  • Fazia um pedido e rezava;

  • Colocava os dados pessoais e desejos no “osamefuda” (papeleta) e depositava em urna apropriada;

  • Novamente fazia uma reverência à frente da imagem do Buda e do Kobo Daishi, como forma de homenagear e agradecer por seus ensinamentos;

  • E por fim, colhia os carimbos e assinaturas na credencial de cada templo.


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Este ritual foi repetido por 44 vezes, durante toda a nossa viagem pelos Caminhos do Japão.


Eu não posso esquecer de contar do principal ritual que fazia quando chegava a um templo, que é ir ao “banheiro” mesmo sem estar apertado, assim garantia que não passaria por apertos até chegar ao próximo destino.


Ritual nas Hospedarias:

Depois de caminhar 24 quilômetros por dia, a Margo, como uma boa líder, sempre esperava reunir todo o grupo no último Templo a ser visitado e seguíamos juntos para fazer o check-in na hospedaria.


Antes de entrar no local, eu retirava as botas e depositava-as em um local apropriado, demonstrado um gesto de respeito e de que não queria sujar o ambiente.


À porta, há chinelos disponíveis para uso interno e os dos banheiros são diferentes dos que são usados dentro da hospedaria.


Nos primeiros dias, eu me atrapalhei todo, principalmente quando ia ao banho, chegava na porta e trocava de chinelo para entrar. Na saída eu esquecia de fazer novamente a troca do chinelo, e só lembrava quando chegava à porta do quarto e voltava correndo para destrocar os chinelos.


Ainda bem que não foi só eu que fiz esta "barbeiragem".


Os japoneses acreditam que realizando este ritual, está evitando que energias impuras da rua quebrem a harmonia do lar.


Eu tenho um bom exemplo de dentro de casa: lembro do meu pai, ele sempre antes de entrar em casa tirava os sapatos e os deixava jogados na porta da sala.


— Guilherme, não deixe a casa bagunçada, vai que chega uma visita! — dizia a minha mãe reclamando por ter deixado os sapatos na porta da sala de casa.


Ritual do banho:

Nos Onsen e nas casas de banho, eu tinha que obedecer um ritual para tomar banho:


No local há vários chuveiros alinhados nas paredes, com banquinhos e bacias, um ao lado do outro.


Despido, sentava em um dos banquinhos e com uma toalha pequena, menor que a uma de rosto, colocava sabonete líquido e esfregava o corpo todo. Tinha de me lavar muito bem antes de entrar na banheira (ofurô).


O banho serve também para estreitar laços familiares e de amizade, o local é compartilhado com as outras pessoas, separado os homens das mulheres, e de regra, deve-se manter a água e o local sempre limpo e evitar de fazer barulho.

Agora se imagine depois de uma longa caminhada ficar relaxando e regenerando as energias, aquecendo o corpo dentro de uma banheira de água bem quente.

Depois do banho eu me vestia com um “Yukata”, uma espécie de kimono de algodão mais simples que você pode transitar pela hospedaria.


Todos os dias na hora do banho eu repetia o mesmo ritual. E depois de um maravilhoso banho, seguia para a sala de jantar.


Ritual das Refeições:

Quando chegava na sala preparada para o jantar, vestido com o kimono, eu tentei sentar no chão na posição “seiza”, dobrando as pernas sob o corpo e apoiado o bumbum nos calcanhares; reconheço que é uma posição difícil e desconfortável para quem não está acostumado.


Em menos de cinco minutos na posição as minhas pernas adormeceram, a solução foi sentar em cima de uma almofada.


Assim que sentei à mesa, recebi um lenço umedecido para limpar as mãos, é hábito dos japoneses também limparem a testa e o rosto inteiro.

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A mesa uma bandeja com porção de arroz, peixes, frutos do mar, algas marinhas como wakame e nori, tofu e shoyu, além de caules subterrâneos como bardana, gengibre e wasabi.


Um visual lindo, tudo bem elaborado com muito amor e carinho, apenas um pouquinho de cada.


Em outras caminhadas longa que fiz depois de um belo banho, eu estava acostumado a comer um “prato de peão” , para matar a fome.


No Japão eu olhei pela primeira vez o meu prato e a unica coisa que passou na minha cabeça foi:


  • É só isto?

  • É pouca comida!

  • Eu vou morrer de fome!”.


No entanto, depois de comer percebi que foi o suficiente, não precisava comer mais do que estava sendo oferecido e saí bem satisfeito da sala de refeições.


No café da manhã japonês também é servido o arroz junto com missoshiru e peixe grelhado.


As seis horas da manhã eu olhava para a bandeja de comida e não sentia um pingo de vontade de comer, mas eu sabia que precisava comer para aguentar percorrer o caminho.


E passei a usar uma técnica para despertar o paladar: primeiro salgava a boca bebendo um pouco do missoshiru e assim conseguia comer o arroz com peixe.


Apesar de ser tudo muito nutritivo e saboroso, eu ainda sentia muita falta de tomar um simples café, com pão francês e manteiga.


Ritual do chá:

Antes e durante as refeições é servido o chá verde que serve para preparar o paladar para o próximo prato.


Deve-se encher o copo dos seus amigos primeiro para somente depois se servir, e se não quiser mais beber, não deve esvaziar o seu copo.


Em todos os lugares sempre fomos recepcionados com chá verde nos quartos ou nas salas comuns para os hóspedes.


Ritual da arte de se vestir:

No Japão tivemos um dia inteiro usando um tradicional kimono japonês, utilizado para ir nas festas.


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Todos em cores vibrantes, cada peregrina escolheu a sua roupa, os sapatos, os acessórios. A mulheres prepararam o cabelo, colocaram enfeites e fizeram a maquiagem.


É uma arte de vestir um kimono e dá muito trabalho, ele deve ficar bem apertada no abdômen mantendo ereta a postura da pessoa.


O kimono que escolhi havia muitos detalhes, e tive muita dificuldade para prender a faixa que fica em volta da cintura.


Eu experimentei usar um chapéu, mas fiquei bem mais caracterizado e parecendo um monge mostrando a minha tradicional careca.


Para conseguir caminhar com o abdômen amarrado e com as sandálias, precisei de um tempo para me adaptar e sentir-se confortável com a roupa, que só com a prática foi que consegui ficar o dia inteiro usando o kimono.


Depois pronto, me olhei no espelho e incorporei o espírito do verdadeiro Samurai, só faltou postar a espada para desafiar outro guerreiro.


Ritual de entrega do certificado:

Após concluir os últimos 100 quilômetros do Caminho, em uma cerimônia organizado pela Associação do Caminho de Shikoku recebemos o certificado de conclusão da peregrinação.

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Como manda o ritual, recebi-o segurando com as duas mãos, um gesto que indica gratidão e respeito pela outra pessoa.


Estes rituais são apenas alguns dos hábitos e costumes japoneses que marcaram o meu Caminho de Shikoku, tem muito outros, tudo que temos que fazer exige um ritual a ser obedecido.

Um comportamento, de tão repetido, torna-se um hábito. Se fizer com sabedoria as transformamos em um ritual.

Eu nunca tinha vivido uma situação em que tivesse de realizar tantos rituais, e ao viver cada um deles fui compreendendo os seus significados e incorporando-os na minha rotina.


Os rituais é uma forma de estabelecer uma “comunicação”, onde todos os sentidos são estimulados: a Imagens, cheiros e sons evocando memórias vívidas de rituais passados, entre gerações, conectando o passado com o presente e o futuro.


Quando as práticas dos rituais passam de geração em geração, causa uma “estabilização”, que serve para educar, regular o comportamento e manter certa previsibilidade na vida das pessoas, num mundo tão imprevisível.


Segundo os japoneses, os rituais nos aproximam da sabedoria e do conhecimento necessários para alcançar a iluminação.


Diante desta experiência vivida no Japão, desliguei o piloto automático e passei a prestar mais atenção nas atividades que realizo e nas coisas a minha volta e transformei as atividades rotineiras “obrigatórias” em “rituais”.


Assim o dia a dia se torna mais leve, deixa de ser uma obrigação para ser tornar algo prazeroso e assim passo a fazer tudo com mais carinho e amor.


Agora ao realizar uma atividade, medito e procuro descobrir o quê, para quê, por que e para quem estou fazendo alguma coisa.


E frente a pandemia alterei os meus costumes, transformando tudo em rituais, comecei com as tarefas mais simples do dia a dia como: acordar, alongar, cozinhar, almoçar, tomar banho, arrumar a casa e cuidar das plantas, etc… e também a forma de cumprimentar as pessoas, a limpeza das mãos, os cuidados com a higiene entre outros hábitos.


Realizando como um ritual todas as minhas atividades diárias, consegui organizar melhor o meu tempo, e já estou obtendo bons resultados, como por exemplo,


Diariamente dedico uma hora para realizar o ritual da escrita e escrevo sobre as minhas experiências do meu caminho, com objetivo de compartilhar com os amigos e para fazerem o mesmo.


Vamos lá?


Bom Caminho para sua Vida!


Um grande abraço!


Paulo Bertechini





Obs: Se quiser viver a experiência e participar da próxima edição do Caminho de Shikoku no Japão, entre no site www.peregrinosemfronterias.com.br , registre o seu interesse que encaminharemos para entrar em contato com Margo.

 
 
 
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