Após a ressurreição de Cristo, os apóstolos seguindo a orientação que o Senhor lhes transmitiu na terceira aparição, saíram da Judeia para transmitir os ensinamentos cristãos aos quatro cantos do mundo. Entre os apóstolos, Tiago que era filho de Zebedeo e Salomé e irmão de João, chamado de Maior. O “Evangelista", frustrado com as constantes perseguições que sofreu Cristo e que continuava atingindo todos os demais cristãos, decidiu pregar em um lugar muito remoto onde não havia perseguições aos cristãos chamado de Finis Terrae, isto é, os confins da Terra, por ser o ponto mais ocidental da Europa, além do qual nada mais há que o Oceano, era então considerada o fim do mundo, daí o seu nome.
Após uma longa jornada, em um pequeno veleiro que praticava o comércio em todo o Mediterrâneo, chegou a Iria Flávia, onde passou vários anos divulgando sua mensagem, na região que hoje é a Galícia, talvez chegando até Zaragoza. Após seis anos de pregação, embora muito poucos dos habitantes locais tenham se convertido ao Cristianismo, decidiu que era hora de voltar à Palestina a fim de contar o que tinha conseguido e trazer mais evangelizadores à Hispania. O retorno foi muito difícil e dois anos depois finalmente aportou em Jafa e seguiu para Jerusalém.
Nesta época os judeus eram regidos por Herodes Agrippa, que levou as perseguições aos judeus às últimas consequências. Retornando a Palestina, Tiago foi preso e sentenciado à morte por decapitação e abandono dos restos mortais aos cães por ordem do rei. Cumprida a sentença, os seus discípulos convertidos em Iria Flavia, Teodoro e Atanásio, conseguiram recolher o seu corpo, que foi embalsamado e transportado de volta à Hispania,.
Tiago havia manifestado o desejo aos seus discípulos de ser enterrado em terras ibéricas, e diz a lenda que seu corpo foi transportado por seus discípulos para a Espanha em uma nau de pedra guiada por anjos. É mais provável que tenha sido levado em um navio mercante comum, porém já em seu ataúde de pedra, daí ter nascido esta antiga crença. O apóstolo foi então sepultado na cidade de Iria Flavia, atualmente nos arredores da cidade de Padrón., próximo à costa ocidental da Galícia, Tiago foi sepultado em um bosque de difícil acesso que recebeu o nome de Libredunum. À partir de então gerações de eremitas se revezavam na tarefa de velar o túmulo do Apóstolo. Há evidências que sugerem ter havido peregrinações esparsas ao local desde os primeiros séculos da era cristã. Porém com as invasões bárbaras, a queda do Império Romano e, posteriormente, com as invasões muçulmanas, o túmulo acabou sendo "esquecido", ou perdido.
Passaram-se quase setecentos anos, quando em 813, um monge chamado Pelayo, retirou-se para viver como eremita no bosque de Libredón na colina circundada pelos rios Sar e Sarela. Neste local havia duas antigas necrópoles (cemitérios) abandonadas, uma romana e outra visigótica. Avistando uma chuva de estrelas que parecia cair sobre um determinado ponto, e interpretando esta visão como um sinal divino, Pelayo foi examinar o local e ali encontrou o velho sepulcro. Informou então ao bispo galego Teodomiro o que havia achado em um "campo de estrelas", isto é, em um campus stellae, em latim, origem da palavra Compostela.
O Bispo Teodomiro empreendeu uma viagem ao local e lá encontrou o eremita Pelayo que lhe relatou que velava o túmulo de Santiago, todo envolto por luzes. O bispo, pelas inscrições no sepulcro, confirmou que se tratava do túmulo do apóstolo Tiago que, segundo a secular tradição havia sido sepultado naquele local, a beira do rio Ulla, próximo a uma antiga estrada romana. Foram também identificados os túmulos de Teodoro e Atanásio, os dois discípulos, que estavam sepultados ao lado do mestre.
A notícia foi rapidamente levada ao Rei de Astúrias, Alfonso II, o Casto, (791 – 842), ao tomar conhecimento da descoberta, nomeou São Tiago como patrono oficial da Espanha e ordenou a construção de uma capela de pedra sobre o sepulcro e um monastério, o que foi realizado no ano 829.
Os primeiros documentos históricos que relatam a existência de peregrinações ao "campo de estrelas" datam do ano 840, e o local aos poucos tornou-se um centro de devoção reconhecido pela Igreja. Em 862 o local não suportava mais o fluxo de fiéis, o que fez com que os restos mortais fossem transladados para Santiago de Compostela.
No ano 1064 Don Rodrigo Díaz de Vivar, El Cid, o herói da luta contra os mouros, chega a Compostela como peregrino. Onze anos depois iniciam-se as obras para a construção da atual catedral compostelana, terminada em 1128. No século XI, o caminho partia de quatro cidades da França: Tours, Vézelay, Lê Puy até Ostabad e de Arlés até Somport.
Devido à importância que o Caminho adquiriu, o Papa Calixto II, incumbiu o frade Aimeric Picaud de escrever uma obra a respeito, tendo sido produzido o Líber Sancti Jacobi, em cinco volumes. Um dos volumes descreve pormenorizadamente o caminho, conhecido como o "Codex Calixtinus", que foi, por muitos séculos o primeiro guia e serve de base até hoje para todos os outros guias.
No século XVI decaiu o interesse pela peregrinação, o Caminho de Santiago perdeu a sua importância e foi gradativamente esquecido. Os exploradores portugueses e espanhóis viajavam por todo o mundo, descobrindo novos oceanos e novas terras. Atrás deles iam não só colonos, mas também comerciantes holandeses e corsários ingleses. E os corsários saqueavam não apenas as terras recém descobertas no Novo Mundo, mas também as costas da Europa.
Em 1589 ocorreu um episódio que veio romper a paz de Compostela. Sir Francis Drake, o mais famoso dos corsários britânicos sitiou a cidade de La Coruña. Os sacerdotes que cuidavam do túmulo de São Tiago, assustados com a notícia de que os ingleses já haviam desembarcado nas costas galegas, ocultaram cuidadosamente as relíquias sagradas. E o fizeram de tão secretamente que ninguém mais soube de seu paradeiro por quase três séculos.
Durante a realização de algumas obras no subsolo da catedral de Santiago em 1879, as relíquias do apóstolo foram reencontradas, e desde então permanecem expostas ao público. Entre 1946 e 1959, novas escavações descobriram o sepulcro do bispo Teodomiro, do século IX. Mais tarde foram descobertos os restos da antiga necrópole do século I, e as sepulturas de Teodoro e Atanásio, discípulos de Tiago.
Gradualmente o interesse pela peregrinação foi se reativando. Em 1982 o papa João Paulo II tornou-se o primeiro papa a peregrinar a Compostela. Três anos depois, em 1985, a UNESCO declarou Santiago de Compostela como "Patrimônio da Humanidade". Na mesma ocasião, o Caminho de Santiago recebeu o título de "Primeiro Itinerário Cultural Europeu".
Em 1988 o governo de Navarra passou a zelar oficialmente pelo Caminho, proibindo o tráfego de veículos motorizados na rota histórica, e a proibindo qualquer construção a menos de trinta metros do trajeto. O fluxo de peregrinos aumentou de maneira mais intensa nos últimos anos. Em 1989 o papa retornou a Compostela e, fazendo um apelo à juventude, conseguiu reunir quinhentas mil pessoas nos arredores da cidade.
Em 1990 foram 4.918 peregrinos, em 1991 foram 7.224. Este número subiu para 9.764 em 1992 e continua crescendo.