Portal principal do templo 45, por onde saímos. A chegada foi pelos fundos pois optamos vir pela trilha nas montanhas.
A trilha é bem difícil; acredito que com chuva é impossível por causa das subidas e descidas muito íngremes, mas vindo pela trilha não precisamos subir 220 degraus para chegar aos altares dos templos pois a entrada é pelos fundos do templo.
Quando estávamos descendo os 220 degraus para tomar o ônibus, que já nos aguardava lá embaixo, um pouco antes de chegar a este portal tive uma experiência fantástica, que me fez refletir muito sobre o significado do real sentido do espírito peregrino.
Tínhamos programado um passeio a Omogokei, um vale cercado de natureza exuberante, especialmente no outono, com as folhas das árvores tingindo de vermelho as águas cristalinas do riacho que banha as montanhas.
Por conta disso apressei o grupo a obter o carimbo na credencial e descer para aguardar no ônibus. Fui uma das últimas e desci com uma peregrina amiga, vendo com que dificuldade as pessoas subiam os 220 degraus.
Já quase perto do portal me dei conta de que estava sem o chapéu e o wagesa. Tinha tirado o chapéu e os dois acessórios para ir ao banheiro, antes de me dirigir ao escritório do templo e esquecido no banco em frente ao escritório! (o wagesa deve ser tirado para ir ao banheiro e na hora da refeição também).
Como já estavam quase todos esperando no ônibus, desisti de voltar para buscar, para não atrasar o tão aguardado passeio, mas quando comentei com minha amiga, ela imediatamente se propôs a voltar, subindo os quase 220 degraus, para recuperar os dois itens.
Recusei, mas ela subiu correndo, e eu desci uns 15 degraus até o portal onde o marido dela a aguardava. Quando eu lhe contei o que tinha acontecido, ele disparou atrás dela, dizendo que poderia subir mais rápido que ela.
Quando ele já tinha subido uns 20 degraus, cruzou com um peregrino japonês descendo, com o meu chapéu e wagesa nas mãos.
Este senhor desceu perguntando para todos os peregrinos sem chapéu, para encontrar o dono. Disse que tinha cruzado com minha amiga, achou estranho ela estar subindo com tanta pressa, mas não a indagou por ela estar usando chapéu.
Recuperei os meus acessórios, agradeci e esperei o casal voltar para descermos juntos até o ônibus.
Como consequência das chuvas e ventos fortíssimos, por ocasião da passagem do furacão, a entrada ao Omogokei estava fechada, o passeio foi cancelado e fomos direto para o hotel.
Fui refletindo como é bonito o espírito peregrino, que se entrega ao próximo naturalmente, sem medir esforços.
E chego a conclusão de que tenho que evoluir muito, tenho muito a aprender com esses peregrinos fantásticos.
Margarida Sassaki (Margo)
Obs.: A Margô é peregrina que organiza grupos para o Caminho de Shikoku
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